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A responsabilidade da cozinha doméstica recai sobre as mulheres há anos, mas a história muda quando falamos sobre mulheres na cozinha profissional. Na gastronomia, além da menor representação feminina, há preconceitos, assédios e falta de reconhecimento.

No entanto, existem avanços em relação ao passado e muitas mulheres incríveis que lutam contra as estatísticas, como a chef e professora de gastronomia Jê Lacerda (49, Brasília) e a operadora do food service Rosana Arantes (62, São Paulo). Ambas compartilharam suas visões e principais desafios neste artigo.

Mulheres em premiações gastronômicas

De acordo com pesquisa do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), em 2019, as mulheres lideram 96% das cozinhas domésticas no Brasil. Enquanto isso, em 2022, um estudo do Chefs Pencil determinou que apenas 7% das cozinhas profissionais mais renomadas são lideradas por elas.

Nessa pesquisa, utilizaram dois dos mais consagrados prêmios gastronômicos mundiais. Para se ter um panorama maior sobre a presença de mulheres na cozinha profissional, foram analisados dados de 2.286 restaurantes com estrelas Michelin de 16 países, além da lista dos melhores restaurantes do mundo, divulgada anualmente no “The World’s 50 Best”. 

Mulheres em premiações gastronômicas

Helena Rizzo, reprodução/Instagram @helenarizzo https://www.instagram.com/p/CXjuubIlc0n/

A chef Helena Rizzo, atual jurada do MasterChef nacional, é a única mulher brasileira que possui um restaurante com uma estrela Michelin, sabia? No Brasil, existem 14 restaurantes premiados pelo Guia.

O The World’s 50 Best Restaurants criou há 10 anos – metade dos seus 20 de existência – uma categoria especial de premiação para a melhor chef de cozinha mulher do mundo. Esse prêmio também já esteve nas mãos de Helena Rizzo.

Em 2022, a brasileira Manu Buffara foi considerada a melhor chef mulher da América Latina, por esse mesmo ranking.

Preconceito contra mulheres na gastronomia

Em agosto deste ano ganhamos uma pesquisa feita no Brasil pelo assunto. O primeiro estudo nacional sobre a representação de mulheres na cozinha foi conduzido pela Ipsos, centro de pesquisa e de inteligência de mercado, a pedido da marca de cerveja Stella Artois.

Os resultados são chocantes, mas não totalmente surpreendentes. 46% das profissionais concordam que a maioria dos chefs renomados são homens por eles terem mais oportunidades de trabalho; e 33% acreditam que as mulheres não conseguem crescer na gastronomia porque não são ouvidas pelos chefs homens.

Tudo isso recai sobre o preconceito que elas enfrentam na área. Além de muita experiência, uma chef precisa do respeito de sua brigada de cozinha para que sua autoridade seja devidamente reconhecida. Com isso, em um local dominado por homens, pode ser difícil receber oportunidades de crescimento além do posto de cozinheira.

Jê Lacerda conta que em todos os lugares que chefiou não havia uma mulher sequer. Todos eram homens, e muito resistentes à presença feminina, "há vários desafios como força física para carregar equipamentos muito pesados, mas sem dúvida o maior é conquistar o respeito de equipes compostas majoritariamente por homens, é preciso se impor e passar muita segurança”, diz.

Não é à toa que cerca de um terço das profissionais já pensaram em mudar de profissão por falta de oportunidade. “Eu acho que os homens continuam levando maiores vantagens, como salários bem mais altos, mas acho que a sociedade está mudando muito”, diz Rosana, que contabiliza 16 anos de experiência na profissão.

Mulheres cozinheiras e o assédio

Na mesma pesquisa da Ipsos, 36% das participantes afirmam que muitas chefs já sofreram assédio moral e/ou sexual ou foram expostas a situações constrangedoras na cozinha.

O número mostra que a situação, quando falamos sobre mulheres na cozinha, pode ir além do preconceito. O instituto contou com a colaboração de pelo menos 500 mulheres da área gastronômica, como proprietárias ou sócias de empresas do food service, chefs e sous chefs, cozinheiras, auxiliares de cozinha, garçonetes, atendentes e operadoras de caixa. 

Como se tornar chef de cozinha mulher?

Como se tornar chef de cozinha mulher

À Direita Chef Rosana Arantes e à esquerda Chef Jê Lacerda. Montagem a partir de fotos coletadas via Instagram.com/rosana.arantes.98882 e facebook.com/chefjelacerda

A gastronomia não foi a primeira opção das entrevistadas, ambas tiveram mudanças na carreira que as levaram para a área em que são felizes hoje. Rosana é administradora de empresas e só foi para a cozinha depois de uma demissão: "Fiquei na maior depressão, mas como na época nós tínhamos um restaurante e meu marido que tomava conta, resolvi ir trabalhar na cozinha do restaurante”, relata.

Já Jê Lacerda estudava direito, mas ali mesmo era capaz de mostrar seus dotes culinários:

“Comecei fazendo pequenos eventos de culinária internacional na casa de clientes e vendendo doces na porta da faculdade na mesma época que estudava”, diz.

Ela resolveu então largar tudo e cursar gastronomia. Sua paixão pela culinária local de diferentes culturas já a levou a 46 países, “até agora”, lembra.

Como conselho para outras mulheres na cozinha profissional, principalmente aquelas que estão começando a se aventurar pelo ramo mesmo sem formação, Rosana diz “que corram atrás, não desistam. Comecei lendo receitas de revistas, pois na época não tinha internet”.

Ela complementa: “Força de vontade e pensamento sempre positivo. Quando comecei não tinha noção de quantidade, de tempo de cozimento, quais os melhores produtos. Corri atrás de cursos grátis onde fui aprendendo vários pratos e dicas diferentes, que me ajudaram muito”.

A insegurança frente a essas estatísticas pode ser desanimadora, mas quem ocupa esse espaço garante que vale a pena. “A mulher é multitarefas, então a facilidade para lidar com situações diversas é a nossa especialidade. Acredito também que a mulher coloca muito mais amor no que cozinha sem perder a técnica. Somos capazes de dominar várias áreas na cozinha”, aponta Jê.

Por isso, o conselho da professora do curso superior de gastronomia é “estudar mais, dominar mais a parte prática, ir pra cozinha sem medo e sabendo que somos capazes de fazer o mesmo trabalho que os homens fazem”.

Vale mencionar que muitas mulheres sonham em ter o próprio negócio, mas encontram dificuldade na obtenção de crédito: cerca de uma em cada três mulheres afirma que empreender no setor custa mais caro em comparação aos homens. 

Com base nesse dado, mulheres em situação de vulnerabilidade que procuram se especializar para conseguir mais oportunidades na gastronomia podem contar com cursos de ONGs e programas específicos para esse público. Por exemplo, o Instituto Capim Santo (ICS), fundado pela Chef Morena Leite, que proporciona uma formação profissional de excelência na área.

Agora que você já compreendeu melhor o cenário das mulheres na cozinha profissional, caso você queira se especializar na área, aqui na Unilever Food Solutions temos conteúdos sobre como se tornar um chef de cozinha e como começar um restaurante do zero, que podem te ajudar bastante!

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